КВАРТЭК

«Quanto mais limitados os meios, mais forte a expressão.»

                                              Pierre Soulages

Os quadros que ilustram as capas do material didático da Cultura Eslava não são aleatórios, eles fazem parte de uma exposição maior chamada “Dirigindo em Kazan”, que reúne 22 quadros do artista plástico russo Dênis Bystrukhin , desenvolvidos  em conjunto  com Elizabeth Ibis Coelho Bystrukhin.

As telas utilizam a técnica de acrílico sobre tela e têm todas elas apenas duas dimensões: ou 130 cm por 180 cm, ou 100 cm por 120 cm.

Este trabalho vem sendo desenvolvido desde 2018, pelo Centro de Cultura Eslava, escola de língua russa na cidade do Rio de Janeiro .

Na realização dessa exposição, ao Dênis compete a execução técnica da pintura, a composição, a escolha das cores, a criação de alguns elementos, e à Elizabeth a pesquisa histórica, a sugestão dos temas, a orientação na criação dos elementos, a organização dos quadros em uma sequência lógica,  necessária para a expressão projeto.

As pinturas da série «Dirigindo em Kazan!» formam uma história onírica  da Rússia e das influências do mundo contemporâneo sobre ela. O enredo é simples: No verão de 1917, meses após a Revolução Russa de Fevereiro de 1917, a jovem aristocrata NATÁLIA PETROVNA faz uma viagem da cidade de Kazan ao porto de Odessa, com o intuito de fugir da recém conflitada Rússia. No caminho, o veículo para para descansar próximo a fábrica de pólvora de Kazan, momentos antes de sua explosão que aniquilaria tudo a sua volta num raio de de dezenas de metros.

Momentos antes da explosão, Natália adormece dentro da sua carruagem e sonha (quadro 2), no mundo onírico, ela se vê com o seu amado em uma casa, que tem um  corredor comprido, que se mistura com o corredor da fábrica de pólvora original. Após percorrer o corredor, provavelmente no momento da explosão, ambos iniciam uma viagem aérea  pelo tempo  que  levará a ela e também ao observador da exposição (ao longo de 22 quadros) do ano de 1917 ao mundo de 2024.

Os 22 quadros da série: DIRIGINDO EM KAZAN se justificam pela presença de um enorme fosso existente, no momento atual, entre a Rússia e os países ocidentais, o que tem colocado o mundo em risco. Um fosso formado, especialmente, pelas dificuldades de comunicação. Às vezes, tem-se a impressão de que a Rússia não entende a retórica ocidental e vice-versa.         Quando começamos a pintar os quadros sobre os últimos 110 anos da trajetória da história russa, desde o império até os dias de Putin, passando pela  Revolução de 1917, pela União Soviética, e pelo mundo informatizado e digital atual, nos chocou perceber que, até hoje, nunca se fez uma série de quadros ordenados sobre um período histórico tão importante para a trajetória da humanidade, nunca se refletiu de forma cronológica, através da pintura, sobre eventos que mudaram a Rússia e o mundo ocidental em que vivemos. As vezes, temos a impressão de que coisas muito importantes aconteceram, simplesmente aconteceram, nos últimos anos, nas últimas décadas e nós não as interpretamos ainda, não pensamos nelas, foram deixadas de lado e as deixamos, propositalmente, de lado, em um mar de feeds e de informações nunca pensados, nunca refletidos, com a certeza de que os fatos estão lá e um dia, quando quisermos podemos resgatar e estudá-los.

Nos 26 anos de existência do Centro de Cultura Eslava, em 2024, pessoa jurídica formada para lançar luz nos estudos da cultura e da língua russas e favorecer os contatos dos brasileiros com a Rússia, o que mais percebemos é que existem várias lacunas de reflexão sobre o papel e o peso real da  importância do Estado Russo para a gestação do mundo em que vivemos. Pouco se tem falado sobre a gênese do nosso mundo atual, o que levou esse mundo a ser como é, e a Rússia a ser como a conhecemos hoje ou pensamos que ela seja.

O desenvolvimento dos quadros da série Dirigindo em Kazan tem esse objetivo: O de refletir sobre a história da Rússia, não num sentido maniqueísta de apresentar os fatos como bons ou maus, mas no sentido de apresentar a história através da interpretação do artista Dênis Bystrukhin, russo, oriundo do coração da Sibéria, da cidade de Novossibirsk, e através da professora de russa mais antiga do Brasil: Elizabeth Íbis Coelho Bystrukhin,        que completará, em 2024, 34 anos de ensino da língua russa, dando sempre tudo de si para que os interessados tenham a oportunidade de ter um estudo do idioma de Kandinsky e de Marc Chagall com qualidade.

 

Todos os quadros, com as suas cores, seus elementos infantis, pueris, buscam, apenas, apresentar momentos da história russa, deixando ao espectador as analises e interpretações dos fatos que aconteceram, e as consequência desses momentos da trajetória russa no tempo. Não existe um juízo de valor maniqueísta da nossa parte ao produzir arte. Os quadros são o que são e os momentos, também. O que aconteceu na história russa cabe a nós nos informarmos sem juízos ou orientações e, como bom entendedores, construirmos a nossa própria interpretação. O bem e o mal, o bom e o mau  estão na nossa cabeça. Agora, que amamos a Rússia, a Elizabeth e o Dênis, e que amamos a cultura e o povo russo é fato. Essa talvez seja a única verdade nesta exposição que deve ser entendida como uma declaração de amor.

As pinturas da série: “Dirigindo em Kazan” apresentam uma ilustração única bem-humorada e positiva. A mensagem passada pelos quadros é comunicativa, cheia de elementos do imaginário russo visando, antes de mais nada a comunicação e a compreensão do porquê das coisas serem como são, na nossa interpretação particular da realidade russa. E compreender a Rússia, da mesma forma que compreender o mundo Ocidental, é equilibrar lados opostos, quase inconciliáveis, sugerindo a paz e o equilíbrio, tão necessários ao momento histórico em que vivermos.

– promover  a função harmonizadora da arte: Fazer arte é harmonizar ideias e contradições humanas, facilitando o  caminho da paz e da compreensão mútua;

– contribuir para o conhecimento da diversidade humana;

– refletir sobre a importância da integração social e do respeito humano devido a todos os grupos que constituem o arco-íris da diversidade humana: raças diferentes, opções sexuais diferentes, carcterísticas físicas diferentes, ideias diferentes.

O projeto vem sendo desenvolvido desde 2018, em 4 etapas:

1 -Gestação dos quadros: Cada quadro se inicia com uma pesquisa histórica sobre o tema que pretende desenvolver e a feitura de esboços;

2 – Organização dos quadros e seleção dos mesmos para integrar a série, nem todas as pinturas feitas para a série Dirigindo em Kazan são aproveitadas para a exposição; nós, constantemente, organizamos e reorganizamos as obras, em função de uma expressividade maior;

3 – Divulgação dos quadros, neste momento, os quadros são apresentados aos públicos, principalmente como capas do material didático do curso de russo do Centro de Cultura Eslava;

4 – Realização de exposições e divulgação dos quadros em escala maior.